Língua Portuguesa: o discurso da mudança que não cansa

Muitos estudiosos da linguagem têm discutido sobre a maneira como a Língua Portuguesa vem sendo tratada em sala de aula, como a gramática não reflete a realidade lingüística brasileira. A distância entre elas existe não só pelas regras condizentes ao português de Portugal, mas também por não contemplar a diversidade dialetal do Brasil. O desafio que se coloca aos professores de português encontra-se no fato de como ensinar uma língua que não reflete a falada pelos alunos, como manter a tradição gramatical em meio às mudanças, em meio as variações.

Julgo que a questão básica para iniciar a discussão tanto no meio acadêmico quanto em sala de aula diz respeito à diversidade existente entre o português de Portugal e Brasil, numa perspectiva diacrônica; entre a oralidade e a escrita; e, consequentemente entre os dialetos. Partindo de uma visão histórica será mais fácil compreender os processos pelos quais a língua materna brasileira se constituiu como idioma nacional. Primeiramente, os professores devem tomar como premissa, sobretudo o respeito às diferenças culturais e dialetais, pois como poderiam discorrer sobre tal tema se não o aplicam cotidianamente em sala de aula? Está implícito nessa reflexão e é inerente à mesma um posicionamento apropriado por parte do educador no que se refere à aceitação e compreensão da realidade lingüística do aluno e dos momentos em que se faz necessário o uso do dialeto de prestígio na sociedade para fins específicos.

As discrepâncias relativas aos usos da oralidade e da escrita devem ser vistas como algo intrínseco a essas instâncias, principalmente no que concerne à língua falada e suas particularidades e não como um fenômeno lingüístico incorreto. O professor deve trabalhá-las como assunto primordial básico, sobretudo propondo atividades que contemplem a observação e a pesquisa na comunidade lingüística do aprendiz e as variações dialetais existentes. Dar-se-á nesse momento, uma grande oportunidade para discutir acerca das diferenças, e, por conseguinte, os usos. No tocante à escrita, a utilização em classe dos diversos gêneros de textos e relativos suportes pode auxiliar com eficácia a explanação a respeito da adequação do texto ao contexto. Sendo assim, a palavra-chave na aplicação das atividades é também a variedade.

Embora a compreensão dessa diversidade lingüística facilite o ensino posterior em relação aos aspectos semânticos, sintáticos, pragmáticos, persiste ainda uma gramática incoerente. Dessa forma, a meu ver, deve-se lançar mão da diversidade como argumento proporcionador para discorrer sobre a necessidade da unidade lingüística, a importância da normatização e os fatores concernentes a esta. De fato, o educador da língua materna tem uma tarefa árdua: convencer aos alunos que a norma contribui essencialmente para a instituição política e social de uma nação. Daí, a necessidade da matéria enfadonha. E como a linguagem é um fenômeno social deve ser realizada muitas vezes dentro das exigências que a sociedade impõe. Daí, a importância da unidade lingüística.

Esses discursos que parecem opostos, a priori, são facetas imprescindíveis de uma mesma questão: a língua em sua completude. Para o professor de Língua Portuguesa, o desafio agora já não é mais o de outrora. A senha é alterada para “equilíbrio”.

Para bem de todos, a meu ver professores não devem ignorar os fatos além-tradição e igualmente, os alunos não devem ser indiferentes à norma padrão. Eliminar os preconceitos facilitaria o processo ensino-aprendizagem em sua totalidade. Infelizmente, a discussão acerca da mudança ainda se restringe ao meio acadêmico, aos teóricos da língua e suas publicações com caráter polêmico. A aplicação em sala de aula dessa matéria até então depende de cada educador e deve ser avaliada continuamente, não para se chegar a um consenso, mas para socializar a emergência do discurso da mudança também dentro das escolas.



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