Jasmim
Neste Natal
coração de leão
essa dureza que vês são só ossos
essa firmeza apenas tendões
profundo e protegido é o
coração
núcleo destemido, ferido
de leão
clandestino
abraço

às vezes meus braços são de aço
às vezes são só laços
e são, às vezes, sem embaraço
meu próprio baço
e mesmo assim
só caçam ossos, o cálcio de outros braços
para cessar os traços dos espaços
no estrado, no colágeno
por um breve e bravo instante
no tácito e impávido teu abraço
"Fulfillment", detail of "Tree of life", Klimt, 1909.
poema singelo

queria que minha poesia
levantasse uma Bandeira
queria dos Barros a singeleza
teria o meu porquinho-da-índia
e nela contida toda a natureza
"The woman with the roses", Chagall, 1929.
casulo
* Sitiante (à minha mãe)

Apartaste.
E aqui fica a certeza da alma nublada.
Arrancada dos muros do amor materno,
Conhecedor da destreza do poeta
Sabedor do ente parido
Confundiu-me a abóbada de teus cuidados
A transmutação do pranto
Tão
Afetuosamente desumana
Renovado o outono a cada instante
A educar os fragmentos de teus sorrisos ainda nesta morada
E o suplício de teu silêncio falante
A chover tua voz em brio
É ali a minha pátria, a mais remota casa.
O ditame ilimitado daquele mundo errante
Não se equipara ao irrelevante barro
Mas aos alísios de nordeste que trazem a precipitação
Dá vida e perpetua a vida
Retirei-me do abissal ventre da mulher deixando raízes
Plantando vestígios em outros colos
Pois aqui fora restou-me apenas
A tenra matéria de sua placenta
Visite:
"A mãe e o filho", Gustav Klimt, 1905.