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Pólen

"Alfafa, La lucerna", Seurat, 1886.

reticentes ao vento
vão-se suas partículas serenas
não pousarão em nenhuma pétala
não semearão nenhum botão
nem sentirão o seu néctar
apenas dissiparão no tempo
o silêncio da açucena...

Oralidade


em tua boca
me caibo

eu louca
me calo

...

"Judith beheading Holofernes", Caravaggio, 1598.

a canoa


a canoa
sem remos
entoa
o silêncio
serena
na lagoa
ôca
una
à tôa


"Le Bateau-atelier", Monet, 1874.

dissonante

acordes dissonantes
sufocam
suportam
o que eu sinto
nos ombros do meu violino


"O Violinista Azul", Chagall, 1947.


silêncio



eu amei o silêncio
o amei mais que pude
até certo tempo

e ele falava
falava mais que todo mundo
e tinha um defeito

o silêncio não silenciava
e todas as suas sílabas
tinham acento

sua voz sibilante
sussurrava, sussurrava
com o vento

e toda vez que ela passa
deixa algo doendo
desalento...

silêncio aqui dentro



"Still Life with Skull", Cézanne, 1900.

I am blue today


I am blue today
why can't I say

I hear his voice
so loud and tough

and all I say
is I am blue today



"Campo de trigo com corvos", Van Gogh, 1890.

o muro



no tubo estreito
o pão seco e duro
espesso engulo

inteiro o peso
o não teso empurro
o medo o muro

escuro o beco
o vão preso interrupto
o freio o urro




"The boat studio", Monet, 1876.

Feridas



feridas são sempre feridas

para as recentes
o choro
para as que sangram
a mágoa
para as cicatrizes
o silêncio
Untitled, Iman Maleki, 1997.

casulo



esse muro grande
entre nós
é mudo

essa glande
esse algoz
é escudo

que frustrante
estamos sós
num casulo


"The Astronomer", Vermeer, 1668.

Essa parte que cala


Essa parte rígida que cala

Em mordaça apaziguada

É também adaga que transpassa

Os espaços contidos n'alma.


Essa parte fria que cala

É vão adormecido em calhas

Animal contido em jaula

Flor que não mais exala.


Só não me peçam para negá-la

Pois que em cruz já esteve ilhada

Não poderia mais abandoná-la

No leito escuro das valas!




"Philosopher in Meditation", Rembrandt, 1632.

H


Ahhh!

Heis que

Himpuseste-nos

Hum

“H”



"Camponesa sentada na grama", Seurat, 1883

Serpente (a Erossss)


Saindo

Sozinha do sótão

Surucucu cinza

Na sala serena

Ensaiando

Um sambinha

Sério, silencioso

Sorrateiramente

Suavemente

Sob meus sapatos

Circundante, cerceante

Sorvendo meu sangue

Traçando no seio

Uma percussão de susto

Um som surdo

No compasso

De um sinuoso segundo

Sssssssssssssssssssssssssss