
a cada tic-tac
toc-toc-me
"The Abduction", Cézanne, 1867.
"o poeta é um fingidor..."
deleito-me em teus
seios, seios
com meus
dedos, dedos, dedos, dedos, dedos
e os
beijo, beijo
com
Desejo
Desejo
Desejo
Desejo
Ópio
verti-me adulterado desde que te conheci
me corrompi, despertei de todo meu ócio
de tal modo que todos os caminhos que percorri
Tu
Tu és raiz quando me espalho
és caule em mim suportado
és folha em mim ornado
és fruto em mim maturado
Tu és seiva. Eu sou orvalho.
o meu gozo é sem fim
seja no teu contentamento
seja no teu desfalecimento
ainda espermaneces em mim
Reparto-me e refaço-me.
Árvore.
A revestir-te e proteger-te.
Pétalas.
A aninhar-te em cada parte.
Folhas e caule.
A prender-te.
Raiz.
P(á)ra...
... não perder-te.
Jardim.
Essa parte rígida que cala
Em mordaça apaziguada
É também adaga que transpassa
Os espaços contidos n'alma.
Essa parte fria que cala
É vão adormecido em calhas
Animal contido em jaula
Flor que não mais exala.
Só não me peçam para negá-la
Pois que em cruz já esteve ilhada
Não poderia mais abandoná-la
No leito escuro das valas!