ah eu quero voltar à Bahia
as aves não gorjeiam aqui em Min...as
"o poeta é um fingidor..."
menininho não cresça assim tão rápido
fito teus olhinhos de vidro
tenho um passo a frente, outro atrás
a vigiar os teus apressados e corridos
já atravessas a rua tranquilo
e fico a te pensar sozinho e duvido
meu cupido distraído
não tropeces no paralelepípedo
não esqueça o calçado
tem muito micróbio no piso
estás a fazer supermercado
eu ainda a te dar pirulitos
queria-te infante, comigo
mas sei que é errante teu destino
menininho, és meu gigante perdido
e sei, te vais, tornar-se-á mais pequenino
a foca mora
num cafofo bem gelado
no meio do Ártico
e dele não gosta
pensa que nasceu no local errado
gostaria mesmo era fugir dos pólos
ir lá para as bandas dos trópicos
que lhe convinha algo mais apropriado
enfrentar o desafio
de deixar o oceano
e capturar peixe-branco
para pescar apaiari no rio
nadar em águas mornas
esquecer que é uma morsa
debandar-se, ir embora
quem sabe, viver numa oca?
Apartaste.
E aqui fica a certeza da alma nublada.
Arrancada dos muros do amor materno,
Conhecedor da destreza do poeta
Sabedor do ente parido
Confundiu-me a abóbada de teus cuidados
A transmutação do pranto
Tão
Afetuosamente desumana
Renovado o outono a cada instante
A educar os fragmentos de teus sorrisos ainda nesta morada
E o suplício de teu silêncio falante
A chover tua voz em brio
É ali a minha pátria, a mais remota casa.
O ditame ilimitado daquele mundo errante
Não se equipara ao irrelevante barro
Mas aos alísios de nordeste que trazem a precipitação
Dá vida e perpetua a vida
Retirei-me do abissal ventre da mulher deixando raízes
Plantando vestígios em outros colos
Pois aqui fora restou-me apenas
A tenra matéria de sua placenta
mariposa, mariposa
que rodopiava a lamparina
tal qual bailarina
para onde fora?
mariposa, mariposa
trocaste a sapatilha pelo salto
agora faz sapateado
no meu coração, livre e solta?
mariposa, mariposa
será que danças tango
voando alto com algum pirilampo
em outros ares, outras folhas?
mariposa, mariposa
deixaste-me com um fado
sorumbático, de lado
já não ilumino a sala toda.