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Neste Natal



Neste Natal
recuso-me a ser superficial
não quero as conversas fáticas
nem as relações fálicas
quero a intensidade, o apego
embora tenha medo

Neste Natal
recuso os preconceitos, o desprezo
quero ser diverso e igual
como verso impresso e digital
como o sorriso negro e virginal
embora seja leigo

Neste Natal
recuso a espera eterna
que me caiba o antigo jeans
a crença de que a ortografia
com o trema melhor ficaria
e a coluna do meio, pois sou inteiro

Neste Natal
recuso-me a ser posseiro
não tenho fama nem dinheiro
quero andar descalço na grama
mas sem pisar no formigueiro
dar boas vindas à mudança
pois é chato ser o mesmo

Neste Natal
recuso-me a me depreciar
se eu não me poupar, quem o fará?
aprendi que se amar não é só incumbência
mas também sobrevivência
nisso eu creio

Neste Natal
quero um novo lema
apesar das perdas, tudo me acena
não quero a pena nem a queixa
nada que me anoiteça
ainda que seja o final da cena
e o umbral do poema...


"A Sagrada Família Canigiani", Rafael, 1508.

tesouro



buscava meu fiho um tesouro sob a cama
não encontrou nada valioso
(por suposto)
somente um brilhante besouro
que satisfez seus olhinhos de criança



"Menino do papagaio", Portinari, 1954.

o trevo


tem um trevo
no meu jardim de bromélias
um solitário de três simplórias folhas

que no contexto
hostil das secas pedras
denota toda possível força

eu o vejo
em meio as pétalas
em posição tão (in)cômoda

e temo
penso com cautela
se teve escolha...



"Irises", Van Gogh, 1889.

poema singelo



queria que minha poesia
levantasse uma Bandeira
queria dos Barros a singeleza
teria o meu porquinho-da-índia
e nela contida toda a natureza



"The woman with the roses", Chagall, 1929.