Quando me perguntas: "O quê?”
Me escondo.
Quando me perguntas: “Quando?”
Me amedronto.
Quando me perguntas: “Onde?’
Me assombro.
Quando me perguntas: “Como?’
Me lanço.
"o poeta é um fingidor..."
Sempre tive uma queda pelos avessos.
O que viesse na contramão.
No lado tortuoso e imprestável das trilhas.
O inacabado, o incompleto.
O finito e incorreto.
O subversivo e adverso.
Revolucionário e abjeto.
Sinuando
Entre o defeituoso e o desastrado,
O desajeitado e o malfeito.
Sem preceitos,
O equivocado,
O imperfeito,
O inverso,
Eu aceito.
Amar? Por que amar?
Se é tão difícil ceder
Se a voz da volúpia clama
E não sou dona do gostar?
Amar? Por que amar?
Se o coração não se doma
Se as regras ele furta
E a matéria não mais refuta?
Como sou desejo?
Se em teu torpor me vejo
Se na amplidão de meu corpo
Sufoca-me teu cheiro?
Como não nos enganar
Se nosso amor encontra-se
No exato momento
Em que nos desencontramos?
Hélio...
Desprovido de prejuízos.
Despojado de benefícios.
Dor ou prazer.
Apenas você.
Não é mais gás.
Nem vida.
Mãos (...)
Ferramenta do possível
Meio do conseguimento
Instrumento do atingível.
Forma de chegar
Modo de reter
Jeito de tocar.
Manifestação de poder
Representação da vontade
Expressão do querer.
Utensílio de propensão
Aparelho metafísico
Maneira de obtenção.
Órgão volante, errante
Imprevisível, inconstante
Carpo, metacarpo, falange.
(...)Mãos
Parte final minha
Que, gélida e pálida, se aninha
Na parte inicial tua.
Em tua geologia eu não encontrei planícies.
Embaixo dessas terras, a história
Esculpe uma paisagem típica
Composta por abalos sentímicos
Que um dia estremeceram esse chão.
Em tua geologia acidentada eu me sedimentei
E no estrato mais profundo desse vão.
Como placas tectônicas
Em busca de um novo encaixe,
Como magma que escorre em direção ao mar,
Como erupção quente em atividade
No cerne cálido da rocha fria...
Uma casa, duas chaves
Uma sala, dois retratos
Uma mesa, dois pratos
Um quarto, dois armários
Duas camas, um vácuo.
Há em meu coração distintas sacadas.
Delas, estendem-se galerias
Contendo imagens tresloucadas
De menestréis despidos de alegria.
Com mãos trêmulas traçam acordes em um instrumento
Consumido pelo desejo daquelas que balançam os quadris
Sem se incomodar com julgamentos vis
Sem se perturbar com andanças do tempo.
Regressam à sacada atormentados acordes.
Migram para cá trazendo os fragmentos ensurdecidos
De meus fatigados dedos, sílabas trágicas abortadas,
Enamoradas das sonatas tombadas nas vielas públicas.
Aqui, da sacada, vão-se versos ao vento.
Vão errantes pelo oportuno outono
E certamente sangrarão em alguma província
Vidas famintas de metaforizados sentimentos.
Como se
a escuridão invadisse o dia
Como se
as ervas daninhas cobrissem as margaridas
Como se
as mariposas se refugiassem nas galerias
Como se
o vento soprasse contra minhas retinas
Como se
o mar recuasse muitas milhas
Como se
o concreto rolasse sobre a fantasia
E como se
a vida abandonasse a poesia.
Nas horas que caminham ao seguinte instante
A cada minuto que apática, mas pensante
A sede de tocar múltiplas vidas se faz notória
Fere a eterna limitação deste ser.
Extrema ânsia dos que se vêem no cárcere de si mesmos.
Exagerada inveja dos que se têm em confronto.
É preciso estar ambíguo.
Repugnar os puristas e ser puritano,
Conhecer o inocente e amar o profano,
Seguidor do nômade e amigo do estável,
Sequaz dos mais distintos destinos.
Permito sangrar a cândida poesia
E os sôfregos instintos de minh’alma.
Permito-me publicar toda minha inconsistência
E desejo compor todo o homem.
Sorvo minhas personagens,
Anseio as diferentes mentes:
A pacífica, a bélica.
Sofro com as impotências à margem do infinito
E sonho com o paradoxo de minhas vontades.
A conformação não é para mim.
Nem a consumação.
Estou eu, sou todos.
Estou teatro, sou artista.
Muitos estudiosos da linguagem têm discutido sobre a maneira como a Língua Portuguesa vem sendo tratada em sala de aula, como a gramática não reflete a realidade lingüística brasileira. A distância entre elas existe não só pelas regras condizentes ao português de Portugal, mas também por não contemplar a diversidade dialetal do Brasil. O desafio que se coloca aos professores de português encontra-se no fato de como ensinar uma língua que não reflete a falada pelos alunos, como manter a tradição gramatical em meio às mudanças, em meio as variações.
Julgo que a questão básica para iniciar a discussão tanto no meio acadêmico quanto em sala de aula diz respeito à diversidade existente entre o português de Portugal e Brasil, numa perspectiva diacrônica; entre a oralidade e a escrita; e, consequentemente entre os dialetos. Partindo de uma visão histórica será mais fácil compreender os processos pelos quais a língua materna brasileira se constituiu como idioma nacional. Primeiramente, os professores devem tomar como premissa, sobretudo o respeito às diferenças culturais e dialetais, pois como poderiam discorrer sobre tal tema se não o aplicam cotidianamente em sala de aula? Está implícito nessa reflexão e é inerente à mesma um posicionamento apropriado por parte do educador no que se refere à aceitação e compreensão da realidade lingüística do aluno e dos momentos em que se faz necessário o uso do dialeto de prestígio na sociedade para fins específicos.
As discrepâncias relativas aos usos da oralidade e da escrita devem ser vistas como algo intrínseco a essas instâncias, principalmente no que concerne à língua falada e suas particularidades e não como um fenômeno lingüístico incorreto. O professor deve trabalhá-las como assunto primordial básico, sobretudo propondo atividades que contemplem a observação e a pesquisa na comunidade lingüística do aprendiz e as variações dialetais existentes. Dar-se-á nesse momento, uma grande oportunidade para discutir acerca das diferenças, e, por conseguinte, os usos. No tocante à escrita, a utilização em classe dos diversos gêneros de textos e relativos suportes pode auxiliar com eficácia a explanação a respeito da adequação do texto ao contexto. Sendo assim, a palavra-chave na aplicação das atividades é também a variedade.
Embora a compreensão dessa diversidade lingüística facilite o ensino posterior em relação aos aspectos semânticos, sintáticos, pragmáticos, persiste ainda uma gramática incoerente. Dessa forma, a meu ver, deve-se lançar mão da diversidade como argumento proporcionador para discorrer sobre a necessidade da unidade lingüística, a importância da normatização e os fatores concernentes a esta. De fato, o educador da língua materna tem uma tarefa árdua: convencer aos alunos que a norma contribui essencialmente para a instituição política e social de uma nação. Daí, a necessidade da matéria enfadonha. E como a linguagem é um fenômeno social deve ser realizada muitas vezes dentro das exigências que a sociedade impõe. Daí, a importância da unidade lingüística.
Esses discursos que parecem opostos, a priori, são facetas imprescindíveis de uma mesma questão: a língua em sua completude. Para o professor de Língua Portuguesa, o desafio agora já não é mais o de outrora. A senha é alterada para “equilíbrio”.
Para bem de todos, a meu ver professores não devem ignorar os fatos além-tradição e igualmente, os alunos não devem ser indiferentes à norma padrão. Eliminar os preconceitos facilitaria o processo ensino-aprendizagem em sua totalidade. Infelizmente, a discussão acerca da mudança ainda se restringe ao meio acadêmico, aos teóricos da língua e suas publicações com caráter polêmico. A aplicação em sala de aula dessa matéria até então depende de cada educador e deve ser avaliada continuamente, não para se chegar a um consenso, mas para socializar a emergência do discurso da mudança também dentro das escolas.