1 ANO DE POESIA !!!





Olá amigos do blog!



Hoje, 30 de Maio, faz um ano de poesia. Um ano que resolvi partilhar um pouco minha pequenina poesia. O que sinto, meu universo subjetivo. Quero agradecer imensamente a todos que visitaram, e sobretudo aos que comentaram. Aqui se sentiram aconchegados. Traduzidos, tocados, ou revelados, permitindo que eu, de alguma maneira, soubesse disso. Deixo a todos o "Pessegueiro em flor", pois não encontrei algo mais apropriado, delicado e intenso para ofertar neste dia. Também resolvi republicar alguns que estão entre os meus preferidos ao largo desse período. Espero que gostem.


Grande abraço da Mariposa!



O trem


O trem

Vem vindo vem

Nessa férrea linha ad finem

Sem ninguém, sem ninguém

Repetindo seu réquiem

Para um bem

Que já não tem, que já não tem...



Grão de Areia


Aceito na areia ser grão perdido

Pois que da Vida já não duvido


Se apenas sou ente em grupo constituído

Não há outra maneira de acolher o Destino


Grânulo minúsculo e pequenino

Que na Natureza se encontra retido


A resignar-se perante um Todo, ferido

Por não ser Possuidor, mas ínfimo possuído!


Cansaço


Cansei do Bilac!

Prefiro ser poeta num traço.

Procuro um verso e tropeço n’outro!

Tento seguir a linha, mas ando trôpego!

E descalço!


O pretérito sentimento poético


O sentimento da poesia não existe.

O que existe é a poesia de sentimento.

No momento em que a poesia se pronuncia,

Há muito o sentimento já se perdia.


Dobrou a esquina quando eu ainda não via!



Partes


Part-o

Part-es

Partes tuas,

Minhas partes.

Partes, imos.

Partimos.

Idos partidos.

Partes idas.

Partidas.



Deus não lê poesia



De que adianta sangrar em papel as dores fugidias?

Implorar aos céus a vida que eu queria?


Súplicas em escarcéu são rasgos e amassos!

Minha pena tem mais o que rogar do que rezar ao léu!


De que adianta prostrar-me, feito réu, perante os versos

Que aqui encerro com aparente apatia?


Ademais, Deus não lê poesia!





Outono


Gostaria perder-me no outono

Em algum bosque de ouro

Num adeus, me diriam: "_tolo"

E meus rastos já não teriam dono


Mas esconder-me entre as amarelas

Fartas folhas e tantas

Entristeceria em ocre medonhas

O desabotoar das próximas gérberas!





Não tenho tempo para poesia


não tenho tempo para poesia

os ponteiros na parede apenas pontuam meu pulsar

por isso doem minhas têmporas

o tempo muda e muda a temperatura

o tempo é mudo, minha pena é temperamental

sinto que meu poema não tem tempo

e pressinto que vem vindo um temporal...




Ópio


verti-me adulterado desde que te conheci

me corrompi, despertei de todo meu ócio

de tal modo que todos os caminhos que percorri

desembocaram nas tuas trompas de falópio




A mariposa e a lamparina


mariposa, mariposa

que rodopiava a lamparina

tal qual bailarina

para onde fora?


mariposa, mariposa

trocaste a sapatilha pelo salto

agora faz sapateado

no meu coração, livre e solta?


mariposa, mariposa

será que danças tango

voando alto com algum pirilampo

em outros ares, outras folhas?


mariposa, mariposa

deixaste-me com um fado

sorumbático, de lado

já não ilumino a sala toda.



Uno

canto o canto

caminho o caminho

sonho o sonho


um

poeta

sozinho




"Pessegueiro em flor", Van Gogh, 1888.


Obs: Desculpem se houver algum problema com a formatação. O Blogger teima em ter vida própria!

Quantum


se sou quatro

ou seis não sei

poderia ser quantos


um quadro no quarto

encontro escondo

o que depende do quando



"La cascade", Magritte, 1961.


A foca-de-bandas (a Luciano Piumarta)



a foca mora

num cafofo bem gelado

no meio do Ártico

e dele não gosta


pensa que nasceu no local errado

gostaria mesmo era fugir dos pólos

ir lá para as bandas dos trópicos

que lhe convinha algo mais apropriado


enfrentar o desafio

de deixar o oceano

e capturar peixe-branco

para pescar apaiari no rio


nadar em águas mornas

esquecer que é uma morsa

debandar-se, ir embora

quem sabe, viver numa oca?



"Singing bird", Joan Miró.


Intermezzo



menino que treme de medo

não sabe que o morcego da noite

é o meio de encontrar

no deserto um camelo?




"Starry night over the Rhone", Van Gogh, 1888.


Degrau




"Crystal Gradation", Paul Klee, 1921.

Sucinto




penso e duvido

que a vida, em conciso

seja apenas isso




"Puberty", Munch, 1886.

*Encruzilhada




"La Promenade Sur La Falaise", Monet, 1882.

*Publicação para a Tertúlia Virtual.

Passamento



como se não houvesse hora

o passado estático nas costas

como passamos é para ontem

e como também o é para agora




"Duas mulheres à janela", Bartolomé Esteban Murillo, 1670.

* Sitiante (à minha mãe)



Apartaste.


E aqui fica a certeza da alma nublada.
Arrancada dos muros do amor materno,
Conhecedor da destreza do poeta
Sabedor do ente parido

Confundiu-me a abóbada de teus cuidados
A transmutação do pranto em felicidade
Tão
profundamente humana e por isso
Afetuosamente desumana

Renovado o outono a cada instante
A educar os fragmentos de teus sorrisos ainda nesta morada
E o suplício de teu silêncio falante
A chover tua voz em brio

É ali a minha pátria, a mais remota casa.


O ditame ilimitado daquele mundo errante
Não se equipara ao irrelevante barro
Mas aos alísios de nordeste que trazem a precipitação
Dá vida e perpetua a vida

Retirei-me do abissal ventre da mulher deixando raízes
Plantando vestígios em outros colos
Pois aqui fora restou-me apenas

A tenra matéria de sua placenta





"Publicação especial para a Homenagem Coletiva do Dia das Mães, promovida pelo Fio de Ariadne.
Visite: http://fio-de-ariadne.blogspot.com


"A mãe e o filho", Gustav Klimt, 1905.