meu coração é minha matéria
é por isso que quando meu corpo penetras
atinges também minhas artérias
"Danae", Gustav Klimt, 1908.
"o poeta é um fingidor..."
meu coração é minha matéria
é por isso que quando meu corpo penetras
atinges também minhas artérias
Eu vi a cotovia
na portinha da vizinha
que pia, pia, pia
Ouvi a cantoria
ou vi a gritaria?
Eu vi a cotovia
na portinha da vizinha
que pia, pia, pia
ser
a tal
a mor
a mal
altar mor
amoral
a normal
amor e tal
a mortal
Os vivos com suas dores
Os mortos com suas flores
As folhas no outono amarelas
E as verdes na primavera
Nas aquarelas as cores
Os pintores com suas telas
Tudo está no seu lugar
Tudo está onde fores
Tudo está em paz
Tudo me apraz
Nada mais
bor
bo
le
tas
por
dos
os
to
la
dos
com
su
as
fa
tas
ce
fa
zem
do
ven
to
um
Pi
so
cas
uma pálpebra
que pisca
no ínfimo instante
da queda
a lágrima
uma página
que risca
no infinito errante
da grafia
a lástima
"A lady writing a letter", Vermeer, 1666.
vão-se-indo
vão-se-vindo
nos versos partindo
as dores que sinto
como se no parto
cortasse o umbigo
e restasse apenas
daquele instante vago
um traço consangüíneo
"As duas Fridas", Frida Khalo, 1939.