deleito-me em teus
seios, seios
com meus
dedos, dedos, dedos, dedos, dedos
e os
beijo, beijo
com
Desejo
Desejo
Desejo
Desejo
"Os amantes", Rodin
"o poeta é um fingidor..."
Aceito na areia ser grão perdido
Pois que da Vida já não duvido
Se apenas sou ente em grupo constituído
Não há outra maneira de acolher o Destino
Grânulo minúsculo e pequenino
Que na Natureza se encontra retido
A resignar-se perante um Todo, ferido
Por não ser Possuidor, mas ínfimo possuído!
Tenho fome de teu olhar
Que se declina ao longe, todavia
Meu sustento e pão a alimentar
Essas carnes não providas.
Tenho sede de teu sorriso
Que se subtrai sem entrega ou seria
Meu leite que nutre qual rio
Essas margens, que beira e sacia?
De tanta fome e sede sentir
Fornece-me às entranhas somente ausência
Farelos de comida reles e sucinta
E por não satisfazer-me sem ti
Consumindo-me corpo e alma em abstinência
Entrego-me calma, em migalhas e faminta.
Tenho saudades do que já não sou
Em mim só um espectro ficou
Uma sombra amorfa, ausente
Que paira no oco que restou
Não sei se havia alguma essência
Se algo em mim se consolidou
Se os espelhos refletiam-me em transparência
Ou se minha face o enganou
Sobrou-me o convívio com outros espíritos
Que vêm e vão à imensidão dos vãos
Almas dançantes sobre essa massa incorpórea
Aparição inútil e vão órgão.
Nessa solidão insípida
Em que me encontro vívida
Fito na escuridão estrelas pálidas
Que voltam opacas
Em minhas retinas refletidas.
São diamantes sem brilho
Estáticos, perdidos
Num mar negro desconhecido
De ofuscamento jamais visto
De betume composto embebido.
Astros solitários em derrocada
Aos milhares, sem raios, distantes
Quedam-se sobre minha pele enluarada
Satélite sem par, una, errante.
Minha poesia é assim
Colada à derme imbricada
Não sai sem um pedaço de mim
Em tudo me invade
Anuncia-me nas praças
Denuncia-me a identidade
Quando se evade, refresca e arde
Publica-me singela e clara
Parte e a mim parte
Aos quatro cantos me alarde
Espalha-me as entranhas, propaga
Delata-me a subjetividade
Não cansa de dar-me
Resvala-me a alma
Difundindo verdades.
O dia em que eu nascia
Não era somente o dia
Em que eu nascia.
Era o dia em que o mundo eu conhecia
Num eu-separado me descobria.
Era o dia em que eu nascia.
Apenas um dia.
O dia em que traçava uma linha
Que um dia seguiria,
Uma estória escreveria
Sobre um dia
Que ainda viria.
O dia dos meus dias
Em que renasceria
E eu de novo seria
Todos os dias
Aquele dia
De minha vida.