A cigarra
com sua bocarra
algo anunciava
O poema por sua vez
no travesseiro de pena
deitava a chuva que ela anunciara.
"Golconde", Magritte, 1953.
"o poeta é um fingidor..."
entre nuvens
minha mente
a voar
como penugem
o que sente
se afastar
perto do lume
o remanescente
é penar
Há papoulas nos jardins internos da masmorra.
Há vermelho-sangue
Há roxo-equimose.
Há azul-celeste, torpe.
O verde que me deste.
Desbotados, exangues, presos.
As cores de Kahlo foram acobertadas
Pelo telhado em branco-gelo!
a cor da janela
a cor amarela
a cor que vem dela
a cor aquarela
a cor a ti apela
a-corda bela
não tenho tempo para poesia
os ponteiros na parede apenas pontuam meu pulsar
por isso doem minhas têmporas
o tempo muda e muda a temperatura
o tempo é mudo, minha pena é temperamental
sinto que meu poema não tem tempo
e pressinto que vem vindo um temporal...
tentei extrair poesia da pedra
briguei, gritei, protestei
entretanto
me entreguei, tropecei,
protelando como sempre
a pedra que não triturei
o meu gozo é sem fim
seja no teu contentamento
seja no teu desfalecimento
ainda espermaneces em mim
perdoe essa criatura
de alma nua e crua
cuja poesia era tua
perdoe a envergadura
sob todos os tipos de luas
da minha pena humilde e absurda
... ... ... ... ... ... ... ...
e por fim
perdoe a ingenuidade
e a tenra vaidade
de que tecido encontrasses
em alguma extremidade
o fio de Ariadne