Equívoco



Há pessoas que forjam uma estadia
Mais longa em nossos dias.
Mas, um instante que parece ínfimo
Se revela importante
Quando liquefazem-se todas as ilusões
E desmascara-se um inquilino
Vivo ou morto,
Sua permanência,
Agora sentida e vivida como
Simples ausência.


Poema Interrupto

Frag...mentos

Rupt...uras

Queb...ras

In...ter...va...los

Par...to

Par...tes

Part...idas

Es...p...aç...os

(...)

Brancos.

(...)

O...c...o...s

Vazios

Entre

Eu

E

Você

Entre

Mim.

E...n...t...r...e

A...qui...

Com romp...imen...tos

Rompicapo

Inconsistência.

Incomplet...

Insuficiência.

Finitude.

PermanênciA.




Acerca da Loucura

“(...) Mais louco é quem me diz

E não é feliz, não é feliz!”


Há dois dias estive no encerramento da 1ªMostra de Arte Insensata realizada pelos Centros de Convivência de portadores de sofrimento mental. Os centros visam ao restabelecimento dessas pessoas na sociedade. O evento foi curioso porque ocorreu um fato estranho para nós, aprisionados. Bem no meio da multidão uma pessoa literalmente tirou as calças e acocorou-se para defecar enquanto o Tom Zé, performático, executava o seu show, não menos extraordinário. Nessa hora, as atenções não estavam voltadas para ele. No entanto, nós todos ditos “normais”, ficamos a observar aquela cena, aparentemente sem risos nem choques. O que não quer dizer que não houvesse de nossa parte certa repugnância pelo ato, afinal somos “normais”. O interessante é que as colegas da mulher começaram a batê-la e recriminá-la pelo ocorrido, o que me fez pensar momentaneamente que “trocamos as bolas”. De fato, “alguma coisa estava fora da ordem mundial”. Logo depois, contrariando esse pensamento concluí: trocamos sempre, de humor, de roupa, de lugar. E nessa troca, pendulamos entre a razão e a loucura; entre a sobriedade e a embriaguez; entre a honra e a insensatez. Acerca desse último estado indesejado, debrucei-me sobre o seu conceito no dicionário Prático da Língua Portuguesa. Encontrei alguns significados interessantes como: “imprudência”, “temeridade” e “extravagância“. Essas definições estão bem mais próximas da nossa vida do que a “alienação mental com modificação profunda da realidade”. Todavia, não encontrei algo que me parecia mais apropriado para o tresvario considerado na esfera social. A meu ver, a loucura está imbricada com as questões de adequação, adaptação e conformidade na sociedade. Ou seja, todo aquele que não se enquadra muito às leis, às normas religiosas, sociais e culturais “encaixa-se” nesse universo desvairado. Mas todos nós em algum momento estamos fora de footing (enquadre) linguisticamente falando. Quem nunca chorou quando todos esperavam um sorriso, ou vice-versa? Quem nunca “berrou” contra a palavra mais doce do mundo? Quem nunca calou na hora que deveria falar? Ou falou na hora que deveria calar? O louco tem a liberdade plena! Não estou levantando bandeiras aqui. Sem mediações, não existiriam possibilidades de convivência. Entretanto, como seria bom que entrássemos em contato com esse lado infantil, primeiro, esquecido pelos anos de domesticação social. Como seria bom viver sem autocensuras, sem auto-reprimendas... O louco é totalmente livre. Não há barreiras que o impeçam. Pode-se até mesmo ser Napoleão! E travar batalhas com moinhos de vento! Sem os loucos, não haveria literatura! Além dos visionários, ainda há os alienados, os mentecaptos, pra não falar dos utópicos! Um médico uma vez me disse que a linha entre a sanidade e a loucura é muito tênue e que ela poderia se romper em um instante de fragilidade psíquica. Talvez essa decisão de “blogar” esse fato tenha sido uma pequena ruptura. Ou não. Decidam vocês! (...) A propósito, a Mostra foi linda!