ciranda do medo


o medo de perder o medo

de perder o medo de perder

o medo de perder o medo


perder o medo de perder o

medo de perder o medo de

perder o medo de perder


o medo de perdê-lo




"Melancholy", Edward Munch, 1891.


o pássaro engaiolado


sonha a montanha

do lado de fora

a brisa canta

da gaiola

eu o vi

triste, sem esporas

eu o vi

livre e ainda chora

por que não vai embora



"A Soul Brought to Heaven", William-Adolphe Bouguereau, 1878.

* sonho


Esta noite tive um sonho, um sonho maldito

Intenso, que não terminava

Mas não eras tu quem eu acariciava

Pois não eras tu aquele ser onírico.


Um sonho mentiroso e bonito

Em que me acalentavas

Mas não eras tu quem me abraçavas

Pois não eras tu naquele sorriso.


Acordei desse sonho magoado e sofrido

Para mim não adicionava nada

Mas não eras tu quem aqui estavas

Pois me despertava um desconhecido.




"Os Amantes", Magritte, 1928

* republicação

rompicapo



rotas rotinas
retidas rodas
roucas retinas
rompidas rotas



"Amourex de Venice", Chagall.

* Amputação



Percepção esquisita essa

Que uma perda gradual encerra

Um membro, uma parte, uma perna

Que se anula, se vai, se dilacera.



Resta somente a sombra da amputação

Como um amargo grilhão presente, dizendo não

Como um tormento pungente e vão

Por se ter invisivelmente a sensação.






"Mlle Rose", Delacroix, 1820.

*Republicação

rosa do medo


se meio medo


se meio rosas


sementes medrosas





"Wild Roses", Van Gogh, 1890.


continuum



que a gente tem que crescer

que a gente tem que sorrir

que a gente tem que sofrer

que a gente tem que sentir


que a gente tem que sonhar

que a gente tem que agir

que a gente tem que amar

que a gente tem que partir


que a gente tem que lutar

que a gente tem que cumprir

que a gente tem que cantar

que a gente tem que seguir



que a gente tem tudo que

apesar de



"Rosa meditativa", Dali, 1958.

* Prece ao Vento



Oh, Ventos de desgosto

Que meu rosto transpassam

Movimentos sem gosto

Que de mim tudo arrastam!



Aquietem-se em minh’alma

Sosseguem meu corpo

Como sopro leve e brisa calma

Quanto um sussurro morto.




"Snowstorm", Willian Turner, 1842.
*Republicação

A aranha marrom


a aranha marrom

resolveu ser anfitriã

chamou alguns convidados

mas não serviu o cardápio de imediato

de bom tom não seria achou

com muita paciência e ansiando pelo regalo

serviu às suas entranhas champinhom

e em seguida um belo petit gateau

que como bombom os abrigou




"Flower Still-Life with Shell and Insects", Balthasar van der Ast, 1630.